26 de maio de 2010

pois houve um tempo em que nossas histórias eram uma só


Parte de mim dói ao pensar que ela está tão perto e eu não posso tocá-la, mas nossas histórias seguiram caminhos diferentes. Não foi fácil aceitar essa verdade simples, pois houve um tempo em que nossas histórias eram uma só, mas isso aconteceu seis anos e duas vidas atrás. Nós dois temos lembranças, é claro, mas aprendi que as memórias podem ter uma presença física, quase viva, e nisso ela e eu também somos diferentes. Enquanto as lembranças dela são estrelas no céu noturno, as minhas compõe o assombrado espaço vazio entre elas. E, ao contrário dela, sinto o peso de perguntas que já me fiz mil vezes desde nosso último encontro. Por que fiz aquilo? Faria tudo de novo? Fui eu, veja bem, quem terminou tudo.


Dear John.

25 de maio de 2010

eu vou incomodá-la para sempre


- Nada na vida dela dá errado. A merda do mundo dela é perfeito.
- Deve ter algo ruim. Deve ter. E se não tiver, a gente arruma.
- Talvez eu seja a única parte ruim da vida dela.
- Você lhe tem amor verdadeiro e vem me dizer que é uma parte ruim?
- É. As promessas se queimam, as lembranças se apagam, as fotos rasgam... E o amor é para sempre. Eu vou incomodá-la para sempre.
- Então acha que ela ainda te ama?
- Sim... Ela pode não saber disso, mas acontece que amor nunca acaba, ele apenas se esconde. E não demora muito, ele volta.

21 de maio de 2010

saudade, nos deixa de cama, mesmo quando estamos fazendo todas as coisas do mundo.


Saudade não é o que a gente sente quando a pessoa vai embora. Seria muito simples acenar um 'tchau' e contentar-se com as memórias, com o passado. Saudade não é ausência. É a presença, é tentar viver no presente. É a cama ainda desarrumada, o par de copos ao lado da garrafa de vinho, é a escova de dentes ao lado da sua. Saudades são todas as coisas que estão lá para nos dizer que não, a pessoa não foi embora. Muito pelo contrário: ela ficou, e de lá não sai. A ausência ocupa espaço, ocupa tempo, ocupa a cabeça, até demais. E faz com que a gente invente coisas, nos leva para tão próximo da total loucura quanto é permitido, para alguém em cujo prontuário se lê "sadio". Ela faz a gente realmente acreditar que enlouquecemos. Ela nos deixa de cama, mesmo quando estamos fazendo todas as coisas do mundo. Todas e ao mesmo tempo. É o transtorno intermitente e perene de implorar por 'um pouco mais'.
Saudade não é olhar pro lado e dizer "se foi". É olhar pro lado e perguntar "cadê?".

Lucas Silveira.

12 de maio de 2010

lá, onde não se espera nada em troca.


“Não confundas o amor com o delírio da posse, que acarreta os piores sofrimentos. Porque, contrariamente à opinião comum, o amor não faz sofrer. O instinto de propriedade, que é o contrário do amor, esse é que faz sofrer. (…) O amor verdadeiro começa lá onde não se espera mais nada em troca.”
- Saint-Exupéry.

Dói, mas passa. Eu não minto. Vai passar.


"Olhe, não fique assim não, vai passar. Eu sei que dói. É horrível. Eu sei que parece que você não vai agüentar, mas aguenta. Sei que parece que vai explodir, mas não explode. Sei que dá vontade de abrir um zíper nas costas e sair do corpo porque dentro da gente, nesse momento, não é um bom lugar para se estar. (Fernando Pessoa escreveu, num momento parecido, “hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu”). Dor é assim mesmo, arde, depois passa. Que bom. Aliás, a vida é assim: arde, depois passa. Que pena. A gente acha que não vai agüentar, mas agüenta: as dores da vida. Pense assim: agora tá insuportável, agora você queria abrir o zíper, sair do corpo, encarnar numa samambaia, virar um paralelepípedo ou qualquer coisa inanimada, anestesiada, silenciosa. Mas agora já passou. Agora já é dez segundos depois da frase passada. Sua dor já é dez segundos menor do que duas linhas atrás.
Você acha que não, porque esperar a dor passar é como olhar um transatlântico no horizonte estando na praia. Ele parece parado, mas aí você desvia o olho, toma um picolé, lê uma revista, dá um pulo no mar e quando vai ver o barco já tá lá longe. A sua dor agora, essa fogueira na sua barriga, essa sensação de que pegaram sua traquéia e seu estômago e torceram como uma toalha molhada, isso tudo – é difícil de acreditar, eu sei – vai virar só uma memória, um pequeno ponto negro diluído num imenso mar de memórias. Levante-se daí, vá tomar um picolé, ler uma revista, dar um pulo no mar. Quando você for ver, passou.

Agora não dá mesmo pra ser feliz. É impossível. Mas quem disse que a gente deve ser feliz sempre? Isso é bobagem. Como cantou Vinícius: “É melhor viver do que ser feliz”. Porque pra viver de verdade a gente tem que quebrar a cara. Tem que tentar e não conseguir. Achar que vai dar e ver que não deu. Querer muito e não alcançar. Ter e perder.

Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e dizer uma coisa terrível, mas que tem que ser dita. Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e ouvir uma coisa terrível, que tem que ser ouvida. A vida é incontornável. A gente perde, leva porrada, é passado pra trás, cai. Dói, ai, eu sei como dói. Mas passa.

Tá vendo a felicidade ali na frente? Não, você não tá vendo, porque tem uma montanha de dor na frente. Continue andando. Você vai subir, vai sentir frio lá em cima, cansaço. Vai querer desistir, mas não vai desistir, porque você é forte e porque depois do topo a montanha começa a diminuir e o unico jeito de deixá-la pra trás é continuar andando.
Você vai ser feliz.

Tá vendo essa dor que agora samba no seu peito de salto de agulha? Você ainda vai olhá-la no fundo dos olhos e rir da cara dela. Juro que tô falando a verdade. Eu não minto. Vai passar."
Antonio Prata.

7 de maio de 2010

Com tanto potencial pra acabar com a minha vida, sabe o que ele quer? Me fazer feliz.


"Vem você e me trata tão bem. Estraga tudo. Mania de ser bom moço, coisa chata. Eu nunca mais quero ouvir que você só tem olhos pra mim, ok? E nem o quanto você é bom filho. Muito menos o quanto você ama crianças. E trate de parar com essa mania horrível de largar seus amigos quando eu ligo. Colabora, pô. Tá tão fácil me ganhar, basta fazer tudo pra me perder.E lá vem ele dizer que meu cabelo sujo tem cheiro bom. E que já que eu não liguei e não atendi, ele foi dormir. E que segurar minha mão já basta. E que ele quer conhecer minha mãe. E que viajar sem mim é um final de semana nulo. Com tanto potencial pra acabar com a minha vida, sabe o que ele quer? Me fazer feliz. Olha que desgraça. O moço quer me fazer feliz. E acabar com a maravilhosa sensação de ser miserável. E tirar de mim a única coisa que sei fazer direito nessa vida que é sofrer. Anos de aprimoramento e ele quer mudar todo o esquema. O moço quer me fazer feliz. Veja se pode. E aí passa a maior gostosa na rua e ele lá, idolatrando meu nariz. E aí o celular dele toca e ele, putz, perdeu a ligação porque demorou trinta mil horas pra desvencilhar os dedos do meu cabelo. Com tanto potencial pra me dar uns tapas, o moço adora me fazer carinho com a ponta dos dedos. Não dá, assim não dá. Deveria ter cadeia pra esse tipo de elemento daninho. Pior é que vicia. Não é que acordei me achando hoje? Agora neguinho me trata mal e eu não deixo. Agora neguinho quer me judiar e eu mando pastar. Dei de achar que mereço ser amada. Veja se pode. Minha mãe deveria me prender em casa, me proteger, sei lá. Onde já se viu andar com um homem desses. Fala se tão de sacanagem comigo ou não? Como é que eu vou sofrer numa situação dessas? Como? Me diz? Durmo que é uma maravilha. A pele está incrível. A fome voltou. A vida tá de uma chatice ímpar. Alguém pode, por favor, me ajudar? Existe terapia pra tentar ser infeliz? Outro dia até me belisquei pra sofrer um pouquinho. Mas o desgraçado correu pra assoprar e dar beijinho."

2 de maio de 2010

hurt


O que é pior? Novas feridas que são horrivelmente dolorosas, ou feridas antigas que deveriam ter se curado há anos, mas nunca foram fechadas? Talvez nossas feridas antigas nos ensinem alguma coisa. Elas nos lembram de onde viemos e pelo o que passamos, nos ensinam lições sobre o que evitar no futuro. É o que gostamos de acreditar. Mas não é assim que funciona. Algumas coisas temos de aprender de novo, e de novo, e de novo.

Grey's Anatomy

as mentiras parecem verdades


"Algumas pessoas guardam seus sentimentos para elas. Sozinhos vemos o que queremos ver... e acreditamos no que queremos acreditar. E funciona, nós mentimos tanto a nós mesmos, que depois de um tempo, as mentiras começam a parecer verdade."

Grey's Anatomy

1 de maio de 2010

esta história de quem eu me tornei, é seu legado, tanto quanto o meu


Independente de quando eu for, pode ser aos quarenta e dois ou aos oitenta e dois, você esquecerá partes inteiras de mim. Essa é a benção e a maldição da perda: você não pode escolher o que cai na inevitável dissolução da lembrança, nem o que fica com você, nem o que irá assombrá-la a noite, sua cabeça pesada de lembranças, enquanto seu marido sonha com parede de escalada e coxas cobertas de lycra.
Talvez o resultado da perda- as migalhas de lembrança- tenha, de alguma maneira, me amedrontado mais do que a perda em si. A verdade é que eu nunca aprendi a andar de bicicleta, porque, entre outras razões, é algo que nunca se esquece. Esta sou eu: alguém que ao mesmo tempo anseia por algo e teme pelo compromisso de lembrar. Há o esquecimento, a desintegração da memória, de pouquinho em pouquinho; e há a impossibilidade de esquecer, a marca em cicatriz, com todas suas camadas. Ambos me assombram de suas maneiras próprias.
Você jamais conhecerá a pessoa que um dia eu fui, aquela que existiu antes de você, de algumas formas, antes mesmo que eu fosse eu, mas esta historia de quem eu me tornei, esta historia sobre nós, é seu legado, tanto quanto o meu.


the opposite of love

genitálias diferentes é detalhe


"Homossexualidade não existe, nunca existiu. Existe sexualidade - voltada para um objeto qualquer de desejo. Que pode ou não ter genitália igual, e isso é detalhe. Mas não determina maior ou menor grau de amor, moral ou integridade."
Caio Fernando Abreu

the cycle

in the clouds